“Uso constante de perucas é prejudicial à saúde”

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A conversa começou com um gesto espontâneo da nossa entrevistada, a jovem Domingas Paulo, ao bater repetidas vezes, de forma ligeira, no centro do couro cabeludo, de formas a diminuir os efeitos da irritabilidade que a incomodava.

Mas, a comichão continuava. Para controlar isso, a jovem usou a ponta de uma esferográfica para coçar o couro cabeludo, enquanto caíam pequenas partículas brancas, que ficaram visíveis nas ombreiras da sua veste.

Ao longo do mês, Domingas Paulo usa, praticamente, peruca em quase todos os dias. A jovem, de 28 anos, justificou o comportamento, alegando que a actividade laboral a exige estar mais deslumbrante, coisa que a cabeleira postiça ajuda a dar.

“Fico o dia todo, principalmente, de segunda a sexta-feira, de peruca e, às vezes, de postiço. Isso me traz muita caspa e comichão”, contou.

Por causa da irritação, a jovem disse já ter procurado um médico, para entender as razões da comichão na cabeça, realçando que conhece muitas mulheres que levam meses com as cabeleiras postiças e não têm o mesmo problema.

Nesta consulta, contou, o médico aconselhou-a a mudar de hábitos, de forma a não prejudicar a saúde capilar. Entre as recomendações, pediu-se-lhe que lavasse o cabelo, no mínimo, duas vezes ao mês, usasse produtos naturais e evitar exceder as oito horas com peruca à cabeça.

Domingas acrescentou que o médico explicou que a irritabilidade no couro não pode ser uma questão que pode ser olhada com normalidade, tendo em conta a sensibilidade do cérebro, situação que pode causar câncer, se não for tratada.

À Domingas, o médico que a assistiu explicou que a lavagem do cabelo em demasia também causa danificação dos mesmos. “Como exemplo, disseram-me que as pessoas que têm sempre contacto com o mar, também podem ver cair o cabelo”.

Pelas idas ao médico, Domingas aprendeu bem sobre a problemática em abordagem. A jovem salientou que a peruca possui uma rica quantidade de cloreto de sódio, responsável por abrir as cutículas e trazer porosidade ao couro que afecta a forma natural dos fios ressecado.

Depois das consultas médicas, a jovem passou a perceber que o excesso de caspa não é uma questão de falta de higiene, mas deve-se a uma sensibilidade no couro ou à alergia, situação que tem danificado as cutículas dos fios do seu cabelo, durante o sono. “Todos os dias que acordo, deparo-me com vários fios de cabelo quebrados nos meus lençóis”.

Depois de descobrir que sofre de irritação no couro cabeludo, a jovem realçou que, nos últimos dois anos, tem feito várias pesquisas nas redes sociais, no sentido de encontrar soluções para a situação, tendo constatado que precisa de usar a babosa, para cuidar da danificação dos fios do cabelo.

Mas, outra grande preocupação de Domingas está no facto de estar sem cabelo na parte da frente da cabeça, problema que se associa à alergia no couro. Sabe ela, agora, que esta situação é resultante do uso de cola que ajuda a assentar a peruca.

Diferente de Domingas, Natacha Faixa despertou cedo para os problemas que as perucas causavam e, por isso, procurou rápido uma dermatologista que a fez entender que “a peruca é um item de beleza e não pode ficar pendurada na cabeça por horas”.

Desde essa altura, Natacha cumpre com os conselhos médicos, mas as sequelas do uso da peruca ficaram e o trauma de não ter cabelo na parte frontal da cabeça continua.

Menos horas de uso

Um dia, Natacha foi ao salão e a técnica prendeu-lhe a peruca com cola. No início, a beleza foi exaltada, mas quando tirou o utensílio notou que estava sem cabelos nas laterais da cabeça.

Hoje, a jovem prefere gastar mais em perucas de cabelo natural humano, que, além de durar mais tempo, não afectam tanto o couro. Apesar disso, Natacha continua a seguir as recomendações médicas e não fica por mais de sete horas com o utensílio, excepto em longas jornadas.


“Há mistérios  nas perucas”

Marizé Nascimento, dona de um salão de beleza, não usa perucas, por desconhecer a essência do fabrico das mesmas, mas, também, por ser um utensílio de uso proibido na igreja que frequenta.

Por outra, a senhora, de 34 anos, foge ao uso de perucas, por considerar que existem várias histórias estranhas em torno desse utensílio de beleza, ao ponto de ela não aceitar sentar-se, às vezes, ao pé de pessoas que as usam, por causa de cheiros horríveis.

“Fala-se de muitas coisas, até, de cabelos de pessoas mortas. Daí todo o cuidado ser pouco quando se parte para essa aventura dos cabelos ou perucas”, realçou Marizé Nascimento.

A proprietária de um salão acrescentou que o encaixe de perucas com colas está relacionadas com a segurança que dá, numa altura em que se registam muitos roubos a nível das ruas de Luanda.

Sobre o tratamento das perucas, a profissional aconselha ao uso de reparadores de pontas de cabelo e de pentes, principalmente, de dentes espaçados no lugar de escovas.

“Assim, se protege o couro cabeludo. E o pente de madeira é, ainda, melhor, porque não produz o efeito electrostático aos fios, diferente dos modelos de pentes de plástico que tiram o desfriso do cabelo”, aconselhou Marizé Nascimento.


Coceira pode indicar descamação excessiva de couro cabeludo

As coceiras ou irritações no couro cabeludo e a queda de cabelos podem estar relacionadas com factores emocionais como a ansiedade e stress, considerou a médica especialista em Dermatologia Maíza Baptista.

Outro factor mencionado pela especialista é a dermatite seborreica (caspa), que é, também, um dos principais motivadores do couro cabeludo ficar sensível e irritado, sem referir o ressecamento da pele, que pode causar irritabilidade e coceira.

A médica disse que situações como a coceira, ressecamento e sensibilidade do couro cabeludo podem ser aliviadas, através da lavagem quinzenal com uso do bicarbonato de sódio.

Maíza Baptista avançou que a hidratação com abacate, banana, maçã, vinagre, limão e óleo de melaleuca ou babosa são outras alternativas para combater o problema da irritabilidade e queda de cabelos.

“A coceira no couro cabeludo, além de incómoda, pode significar problemas maiores que a caspa, que é causada pela descamação excessiva do couro”, considerou a médica.

Problema pode evoluir para dermatite

A dermatologista alertou que quando se coça a cabeça, fere-se a região e abre alas para as bactérias entrarem no couro cabeludo, através das unhas. Esta situação pode causar foliculite ou dermatite.

“Sentir necessidade de coçar sempre o couro cabeludo não pode ser encarado como algo comum, porque é uma problema causado por alergia”, chamou a atenção a especialista.

Maíza Baptista explicou que a foliculite pode surgir quando há excesso de oleosidade no couro cabeludo. Há a foliculite decalvante, um tipo mais grave, que causa a perda de cabelo, e a foliculite queloidiana, em que os cabelos nascem muito enrolados para dentro do couro cabeludo e causa agressão em forma de cicatriz.

A alergia no couro a que se faz referência tem o nome científico de dermatite de contacto, que é a coceira na cabeça causada por produtos irritantes, como tintas, shampoos ou cremes que provocam um processo inflamatório na pele.

A médica aconselhou a lavagem regular do cabelo com shampoo sem parabenos e outras substâncias irritantes, acto que deve ser seguido da aplicação do condicionador no comprimento do fio, de forma a evitar o desenvolvimento da caspa no couro cabeludo.

A dermatologista esclareceu que os shampoos são produzidos para realizar tratamento do couro cabeludo, tal como os condicionadores fazem o tratamento dos fios. Mas, desaconselhou a troca constante do tipo de produtos para o cabelo.

Maíza Baptista chamou a atenção para as pessoas que dormem com o cabelo molhado enrolado a uma toalha, situação que irrita o couro, além de ressecar e pode favorecer a queda dos fios.

“Os constantes desfrisos e o uso das perucas com colas não adaptadas ao couro cabeludo são prejudiciais, embora seja um hábito comum de certas pessoas. Isso danifica a fronte capilar, o que é prejudicial a saúde”.

Tecnicamente, a médica referiu que o uso de perucas é recomendada a pessoas com câncer em tratamentos de alopecia e quimioterapia, mas deixou claro que nem todas as perucas humanas causam danos no couro capilar”.

Fonte: JA

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