Hora de ir ao bar. E beijar na boca, já?

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“Já tinha saudades de tomar um cafezinho sentado numa esplanada”. Estas foram as palavras de abertura das hostilidades da segunda fase do desconfinamento por estas bandas da península ibérica, mais propriamente, em Portugal, proferidas pelo primeiro-ministro António Costa. Apesar dos apesares a vida não para e viver pessimista é horrível.

Saio às ruas para obter o barômetro do que agora é chamado de calamidade. Exige-se, mas com cautela, uma saída forçada da pandemia. O regresso a normalidade não pode ser de forma brusca. Entende-se que o aborrecimento já é o maior e o pior inquilino de muitos lares mas se se pretende evitar males maiores ainda é a melhor coisa a fazer.

Em quase todos os cafés que tive a oportunidade de vislumbrar tanto ao longe como aconchegado, o sentimento era de saudade. O sentir as nadegas pousadas numa cadeira, o diálogo com a pessoa que atende, o prazer de poder gastar o mínimo que se pode, o olhar às paisagens enquanto envenena-se os pulmões com nicotina, observar com os olhos e com o coração cada emoção, nunca deu antes tanta satisfação.

As distâncias sempre recomendadas: dois metros enquanto há desconfiança. Lá no bar só a cerveja tem a capacidade de tornar o consumidor imune. Na primeira cerveja, as regras de segurança são exigidas; à segunda, a necessidade de desabafar com o homólogo da caneca, qualquer questão que seja, torna-se basilar. Ao efeito do lúpulo exagerado, abraços e beijos são dados de formas inconscientes. Ali a pessoa questiona-se: afinal é a fé que salva ou nem por isso? Pois claro, o vírus não resiste ao álcool.

Pelas avenidas, a tranquilidade ainda não era fotografia de alguns transeuntes. Rostos amarfanhados, de quem se calhar perdera alguém nesta desgraça, pintavam o dia. Os velhos, os maiores “clientes” desta hecatombe, caminhavam ainda tartarugalmente com olhos presos na esperança. “A vida não é para ser vivida com pressa”. Ouvi da boca de um mais velho que, dito aquilo, abanou a cabeça, enquanto observava fixamente para um algo qualquer. Olhei para a mesma direcção e vi que ele, decepcionado, enxergava dois adolescentes que em plena rua tiraram as máscaras para darem um beijo demorado na boca de um e de outro.

Não sei se era ciúme por parte do sábio velho ou mesmo tristeza ao ver dois imberbes a violarem com paixão as regras de segurança contra o Covid-19. Como diz um bom amigo: “Com calma e com alma” vamos chegar lá. É hora de ir aos bares mas beijar na boca mesmo só com segurança. Ahm, e beber só com responsabilidade.  

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