O “Mercador da Morte” ligado à UNITA e Moçambique

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Viktor Bout, o cidadão russo que poderá ser trocado pela basquetebolista Brittney Griner e o alegado espião Paul Whelan que cumprem penas de prisão na Rússia, é conhecido como o “Mercador da Morte”e foi um dos principais fornecedores de armas à UNITA durante a guerra civil em Angola no período posterior às fracassadas eleições de 1992.

Com efeito, aviões pertencentes a uma ou várias companhias de Viktor Bout foram vitais no transporte de todo o tipo de armas para a UNITA desde armas ligeiras, munições e carros blindados quando este movimento já não tinha apoio material dos Estados Unidos e África do Sul, havendo notícias que um desses contratos foi avaliado em 100 milhões de dólares.

Fluente em Português, Bout tem também ligações históricas remotas com Moçambique onde exerceu funções de tradutor militar da União Soviética trabalhando muito provavelmente para os serviços de inteligência militar soviéticos, GRU, algo que lhe tem merecido o apoio das autoridades russas desde a sua prisão nos Estados Unidos.

Viktor Bout encontra-se a cumprir uma pena de prisão de 25 anos nos Estados Unidos, onde foi condenado em 2011 por tráfico de armas para o movimento FARC da Colômbia, depois de ter sido preso na Tailândia numa operação americana usando falsos representantes daquele movimento rebelde.

As autoridades russas têm estado a pressionar pela sua libertação e na Rússia, Bout, de 55 anos de idade, é considerado um preso político e é tido como um herói pelos meios de informação estatais russos.

Isto deve-se provavelmente às suas ligações com a GRU (algo que ele sempre negou) e também pela sua amizade com Igor Sechin um dos aliados e conselheiros mais próximos do presidente Vladimir Putin com quem Bout estudou no Instituto de Línguas Estrangeiras das forças armadas soviéticas e com quem trabalhou em Moçambique.

Uma exibição de quadros por ele pintados na cadeia nos Estados Unidos foi organizada há alguns anos atrás em Moscovo com apoio das autoridades russas

Estudante de línguas

Fluente em português (uma das seis línguas que fala) Viktor Bout nasceu no Tajiquistão em 1967 então parte da União Soviética mas ficheiros dos serviços secretos sul-africanos indicam que Bout é na verdade de etnia ucraniana.

Quando cumpriu o serviço militar na então União Soviética, o futuro traficante de armas foi estudar para o Instituto Militar de Línguas Estrangeiras onde aprendeu várias línguas tornando-o fluente ou quase fluente em português, inglês, francês, árabe e farsi.

Bout continua a ser um amante da língua farsi que em entrevistas descreveu como a “língua do amor” e na cadeia tornou-se num estudioso da poesia farsi.

Foi nesse instituto em Moscovo que Bout conheceu Sechin com quem trabalhou em Moçambique nos anos de 1980. Sabe-se aliás que foi em Moçambique que ele conheceu a sua mulher também de nacionalidade russa com que se viria a casar em 1990.

Sechin viria anos mais tarde a tornar-se num aliado de Vladimir Putin na cidade de São Petersburgo tornando se num dos directores da companhia de petróleos Rosneft e hoje considerado uma das pessoas mais poderosas da Rússia.

Ironicamente Bout esteve também envolvido nas operações militares em Angola ao lado do governo do MPLA nos anos de 1980 embora se desconheçam pormenores concretos. Bout disse em entrevistas que esteve apenas “poucas semanas” em Angola.

Fim da União Soviética, início do negócio de armas

Quando a União Soviética entrou em colapso em 1991 Bout foi desmobilizado havendo informações diferentes sobre a patente com que deixou as forças armadas russas e sobre uma graduação de oficial dentro dos serviços de inteligência militar a GRU.

Fixando-se na Bulgária Viktor Bout iniciou a a sua carreira como empresário de transportes aéreos formando a Air Cess com três aviões que segundo um livro sobre a sua vida “Merchant of Death” lhe foram dados pela GRU que ficava com partes dos lucros das suas actividades.

Os aviões de Bout começaram por transportar bens de consumo para países africanos e também transportes do Senegal para países vizinhos.

O seu primeiro negócio de transporte de armas envolveu o Afeganistão.

Mais tarde o seu primeiro contacto com a UNITA foi para o transporte de alimentos, mas o seu negócio de transporte de armas para o movimento angolano expandiu atingindo os 100 milhões de dólares, sendo o principal ponto de partida a cidade de Burgas na Bulgária.

Bout disse ter conhecido o primeiro presidente da UNITA Jonas Savimbi, que descreveu como “carismático”.

Armas foram também transportadas para o Togo e Zaire mas uma investigação da ONU concluiu que os certificados de destino das armas (end use certificates) eram falsos, pelo que se presume que essas armas foram entregues a outros destinatários.

Paradoxalmente Bout disse que transportou também armas para o governo angolano.

Bout esteve por algum tempo baseado na Africa do Sul em Johannesburg onde os seus aviões usavam uma pista de aterragem na cidade de Pietersburg e chegou a controlar 30 companhias diferentes, muitas das quais se pensa terem sido apenas empresas de fachada.

O seu negócio abrangeu o aluguer de aviões a diversos países africanos incluindo a Líbia.

O seu negócio expandiu estimando-se que possuía trinta aviões de transporte a operarem para diversas partes de África e para os mais diversos clientes, incluindo o Ruanda e também no transporte de tropas no leste do Congo e Somália.

Em 2008 Viktor Bout foi preso na Tailândia numa operação americana quando negociava a venda de armas para agentes americanos que ele pensava serem representantes da FARC.

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