Cidadãos atearam fogo em pneus diante da Polícia Nacional
Uma revolta popular no bairro ‘’Agostinho Neto’’, nos arredores da cidade de Benguela, travou nesta quinta-feira, 26, o desalojamento de quase 150 famílias, algumas delas vítimas das enxurradas de Março de 2015, que estiveram em confrontos com agentes da Polícia Nacional.
Na presença de oficiais de diligências do Tribunal Provincial, que procuravam testemunhar a execução de uma ordem judicial favorável a um antigo membro do Governo, tido como proprietário do espaço, os moradores do bairro queimaram pneus para proteger mais de 80 moradias.
Consumada a reconstrução de casas demolidas há já três meses, quando o Tribunal deu razão ao arquitecto Zacarias Kamwenho, antigo director do Urbanismo, a Polícia regressou ao local, com cerca de 100 agentes, mas nem o reforço do aparato de segurança abriu caminho a uma nova vaga de destruição.
Várias famílias, em representação de um total de 600 pessoas, travaram o avanço dos meios da Administração Municipal, que ficaram longe das moradias a serem demolidas.
“Isto é uma confusão tremenda, a população, até a sinistrada, retomou a construção. Nós temos documentação do espaço, mas alguém vem e pensa que é dono disto. Nós somos sacrificados’’, diz um morador, ao passo que o vizinho questiona ‘’a ausência da Administração, que até prometeu casas. Mas como não fazem, nós, com o nosso dinheiro, fizemos e continuamos a fazer’’.
Houve quem tivesse feito um recuo até 2010, altura em que Zacarias Kamwenho, que também já foi director das Obras Públicas, conseguiu, conforme a sentença em posse da VOA, os 300 mil metros quadrados que dão azo à polémica.
“Se vender terreno é crime, como diz a lei, o Sr. Zacarias Kamwenho merece cadeia. Ele tem terreno em todo o sítio, aqui, na Graça, no Camioneiro e nas Salinas. Nos não merecemos. E nós, não merecemos nada?’’, pergunta.
Contactado, Zacarias Kamwenho, que fala em invasão de terras, preferiu não gravar entrevista, mas salientou que a apatia das forças policiais coloca em causa uma decisão de cumprimento obrigatório.
Os funcionários do Tribunal Provincial presentes no ‘’Agostinho Neto’’ não quiseram prestar declarações, à semelhança do comandante policial que chefiava a operação.