Oh País… E nós?

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Angola é um país grande e belo. Faz parte do continente Africano. Pela sua extensão territorial e ilimitadas capacidades filantrópicas, numa densidade da tez bastante superficial, obriga-nos a olhar para o exterior, alimentar o vasto pasto e terrenos alheios enquanto que os seus vão a conta-gotas padecendo de enfermidades, que em pleno século XXI, posso considerar inconcebíveis.

Sábado último acompanhei até a última morada um ex-aluno vítima de um acidente de viação. Naquele mesmo dia foram 15 funerais num só cemitério. Não imagino a festa de lamúrias e lamentações noutros cemitérios. O meu morreu de acidente; decerto que os outros 14 não foram acidentalmente mortos.

Anos pretéritos, muito próximos da esquina de 2018, milhares de angolanos morreram sob olhar impávido e sereno dos responsáveis da saúde do nosso país por culpa da enfermidade da febre amarela. Qual foi mesmo a razão? Pelo que se dizia, falta de medicamentos e materiais gastáveis. Houve um assalto do erário destinado para se reverter essa situação e os açambarcadores dos mesmos “parece” que estão a contas com a “justiça”.

Temos assistido nos noticiários dos canais públicos nacionais com a alma magoada e a emoção lúgubre a morte de gado bovino ao número de dezenas na província do Cunene. Os habitantes têm estado a trocar milho e massambala por um bovino só para que comam alguma coisa. Há dias que nem comem. O que é que as autoridades têm feito para reverter? Confesso que não sei.

Por razões políticas e assuntos que contrastam com a minha percepção leiga humanista apercebo-me que 52 toneladas de medicamentos e materiais gastáveis serão enviados para a Moçambique por culpa do ciclone que devastou algumas zonas daquele país irmão.

E nós então? Será que não estamos a morrer por falta de medicamentos e os tais gastáveis? É impossível não sermos solidários com os mesmos.

Em Angola, mais propriamente em Luanda, quando nos dirigimos para uma unidade hospitalar para resolver alguma situação de ordem pessoal ligada a saúde somos quase que obrigados a obter por conta própria alguns medicamentos caso contrário não veremos a nossa situação resolvida. Qual é a desculpa? Não há material gastável; resposta dada sobre toda a petulância possível do técnico de saúde da instituição. Claro que isto não é percentual na casa dos 100 mas acontece. Mesmo assim vamos doar 52 toneladas de medicamentos e materiais gastáveis. Está bem.

Dra. Ministra da Saúde, que tal se no lugar de 30 toneladas de medicamentos fossem enviados os alimentos cultivados no interior do país e que estão quase a estragar-se por falta de escoamento? Os mesmos contentores que levarão os medicamentos são os mesmos que poderão levar esses alimentos. Não são na sua totalidade perecíveis mas ajudarão no sustento imediato de muita gente.

Somos todos vistos e classificados como insensíveis por pouca ou nenhuma capacidade de análise contextual. Dar de comer o filho do vizinho enquanto o teu filho morre de fome nada tem a ver com filantropia; pelo contrário só pode ser classificado como visão dúbia e incontextualizada dos factos.

Quiçá eu e muitos não compreendemos nada disto; quiçá só é mesmo a minha insensibilidade a gritar sobre o silêncio forçado das minhas entranhas.

Gostaria de terminar por apresentar-me: Olá a todos; eu sou o sarcasmo.

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