Crédito à habitação com poucos pedidos aprovados

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Dois meses após entrar em cena, o número de clientes que conseguiu crédito fica aquém das expectivas apresentadas no lançamento da linha de financiamento, tida como “salvadora” do sector imobiliário. A culpa é da falta de documentação e do valor dos imóveis, incompatível com a carteira das famílias.

A falta de cultura imobiliária está a condicionar a massificação do crédito imobiliário, ao abrigo do Aviso 9 do Banco Nacional de Angola (BNA). Dois meses depois da sua implementação, especialistas defendem mais atitude das partes envolvidas para que o processo ganhe dinâmica.

A ronda feita pelo Expansão junto dos principais bancos integrados nesta linha de crédito de 58 mil milhões Kz constatou a aprovação de poucos projectos, sobretudo a nível de clientes particulares. “Quase não temos projectos aprovados. O que se passa é que os clientes pedem explicações, mas poucos avançam. E os que avançam, poucos concluem”, disse fonte de um dos bancos contactados.

Este cenário está a ser vivido pela maioria dos bancos, que, apesar de reconhecerem a existência de negociações, admitem que as condições para a concessão do crédito limitam grande parte dos clientes. “É verdade que grande parte dos nossos clientes que solicitam informações constatam depois que não têm condições para aderir, sobretudo financeiras. Mas nós não podemos fazer nada, porque temos de garantir o retorno do financiamento”, disse outro bancário.

A Associação dos Profissionais Imobiliários de Angola (APIMA) aponta a falta de literacia financeira como um dos entraves ao crédito imobiliário. “Falta literacia imobiliária nos promotores, clientes e funcionários bancários. E isso prejudica o mercado que tarda a desenvolver-se”, considera Cleber Corrêa, presidente da APIMA .

Para este profissional do sector, os promotores têm feito pouco para assegurarem as garantias e junto da banca conseguirem financiamento. “O crédito exige garantias e os promotores não legalizam os terrenos, assim como a construção dos imóveis. Inclusive a Associação já reuniu com o Instituto de Planeamento e Gestão Urbana de Luanda para auxiliar na legalização, mas os promotores manifestam pouco interesse”, refere.

O preço dos imóveis é outra razão apontada para a fraca adesão ao crédito imobiliário, que pode financiar até 100 milhões de Kz por família. O rendimento dos clientes acaba por ser insuficiente para o valor dos imóveis em comercialização. A título de exemplo, uma família ou uma pessoa singular que pretende adquirir um imóvel no valor de 27 milhões Kz, tem de ter um rendimento mensal de 490 mil Kz. Por isso, a APIMA defende a necessidade de construção de habitações mais baratas e mais adequadas ao mercado nacional, para que os cidadãos possam ter acesso a esta linha de crédito. “Precisamos construir habitações mais baratas e isso vai permitir às pessoas com rendimentos mais baixos concorrerem ao crédito. Temos de ter produtos que vão de encontro ao salário das pessoas”, reforça Cleber Corrêa.

Fonte: Expansão

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