Quando trata-se de Angola, tenho sempre a mania de trabalhar por ela, ocupando-me a criar textos, inventar histórias, ler e reler de forma a elucidar-me sobre algum assunto. No entanto tive de basculhar no espaço dos meus livros o de “Óscar Ribas” que devolveu-me por alguns instantes aos tempos idos na frequência do ensino secundário aquando compilava um trabalho de técnica de expressão do autor com um título dos seus livros em epígrafe.
Lembro-me que mesmo não o conhecendo fisicamente, por ter investigado um pouquinho dos seus trabalhos tornou-se numa das melhores referências da literatura angolana, não havia perdido o foco face as suas habilidades por ser um jovem cego mas com os seus projectos muito bem assentes no chão. Continuou preocupado com as distintas situações que afectavam as comunidades naquela altura. Um homem resiliente desafiando a visão, aos trinta anos na flor da idade contribuindo para a cultura nacional.
Talvez seja isso que levou-me a intensificar a vontade de perceber os passos da literatura, fumar esse mujimbo no qual acredito não haver possibilidades de um dia desperdiçar o consumo dessa loucura.
Essa tal loucura vai envolver-me, vai envolver a todos uma relação profunda com a vida, com a natureza a nossa volta, com o universo e a sua complexidade dentro e fora do nosso território, com as nossas raízes, com a multiplicidade de tribos, culturas, factos que podem mudar nossos aspectos psíquico motor como: a nossa auto-estima, nosso comportamento, nossas relações humanas) etc. Porque na tenra idade como artista aprendi que quando se aperfeiçoa essa actividade apesar da adversidade, precisa-se depois da colectividade do ensino aprendizagem (escola, comunidade) e a melhor forma de ser original é caminhar algumas vezes sozinho. Mas que na hora de uma abordagem e análise da situação deve-se contemplar o mar sem filtros, preto e colorido, bravo e tranquilo como se nos batêssemos defronte, caracterizando-o com as suas ondas acesas e nua maresia, num cenário onde o pescador esticando o anzol depara-se com a nascente do sol toda florida e simpática convidando-lhe para um mergulho, quando as garotas bonitas da restinga num gingar de veado meneiam a cabeça envolvendo os turistas a passarem mais tempo do que deviam, enquanto as crianças combinavam uma partida de fotball nos arredores da praia.
´De certo, que o que levou o autor da obra “Ecos da minha Terra” foi pela paixão que tinha, para além dele mesmo levar os outros a envolverem-se primeiramente com a vida, terem confiança em si próprio em meras dificuldades, olhar para um povo, sua etnia, hábitos e costumes, romper preconceitos ao falar de uma tribos com as suas ambições. Quando retrata a gente do mar, o sacrifício por eles feitos no quotidiano ao acordar de madrugada despertados pelo som dos galos e a forma costumeira como se trajavam parecendo mulheres: pano-saia pelos joelhos e outros panos que enrolavam pela cabeça, caminhavam para o mar arrastando a canoa na água com seus braços vigorosos, anzóis lançados fumando seus cachimbos de barro e outras aventuras da juventude.
Mas as aventuras da juventude não podem cegar-nos a visão do que ao longo do período da razão fomos investindo os nossos sonhos pluralizados e singularizados tendo em conta as nossas expectativas. Pese embora não ao ritmo em que nos acostumamos a ser servidos. Mas agora também devemos ser nós a plantar, a colher a fazer a distribuição dos bens de primeira necessidade para uma boa parte dos que precisam.
Nesta senda alguns precisam de dinheiro, outros de saúde, outros precisam de estímulos, outros de comida, outros de educação, e outros de tudo. Factos que nunca vão deixar de existir.
“Ecos da minha Terra”ainda pode ser um antídoto para esse contexto, repugnando tudo que não nos acresce, que não nos vivifica, que tende a influenciar mentes a esquecer a generosidade de uma nação que preocupa-se em ser ela mesma, que escusa-se a responder entre o ladrão e o feiticeiro qual dos dois é o primeiro a sair as altas horas da noite, sem primeiro levar em conta a demanda da sua objectividade nesta narrativa.
Assim também deve ser os nossos pontos de vista, firmado num propósito de que alguém pode sair a ganhar sem flagelo, contribuir para o bem, pautar numa atitude em que ninguém se martirize, ninguém perca alguma coisa indispensável, e que ao ter seja também para o benefício dos que não conseguem obter o que conseguiu com sacrifício.
A atitude de escritor ou artista nunca deve ser para pintar a sociedade de nuvem, nem mesmo acirrar os ventos com clima podre agravando a terra com tempestade, o que precisamos agora atendendo o contexto em que se vive é de um ombro amigo, que permita repousar a nossa alma depois das guerras que suportamos no dia à dia. Um solo que ainda despeje o oxigénio para respirarmos. Uma terra que não viva a vida toda a julgar nossos defeitos, que nos estimule a sermos diferentes, a corrigir os nossos fracassos, sermos humanos capazes de suportarmos os grandes e ajudarmos os mais fracos. Evitar que a vida seja apenas noites de saudades.