O PRAZER IMEDIATO E O PREÇO DO FUTURO

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Na sequência das partilhas pedidas, já atendemos à Cristina, à Carina, e hoje, chegou a vez do João. Ele pediu que reflectíssemos sobre o perigo das relações sexuais desprotegidas e o uso excessivo de drogas e álcool. Este é, sem dúvida, um tema que poderia render inúmeras partilhas, daquelas que geram uma interação rica com os leitores, mas como temos de fazer caber numa só, tentarei trazer a essência de forma clara e, ao mesmo tempo, profunda.

Quando li o pedido do João, a minha mente viajou de imediato para uma época marcante na minha vida: o período em que trabalhei no *Instituto Nacional de Luta Contra a SIDA*. Foi uma experiência que me abriu os olhos para a realidade das doenças sexualmente transmissíveis, os tratamentos e, mais do que isso, o estigma e discriminação que muitas pessoas enfrentavam. Curiosamente, o preconceito e o isolamento social, na minha opinião, eram quase tão dolorosos ou até mais que a própria doença.

No Instituto, uma pergunta martelava na minha cabeça: “Se as pessoas sabem dos riscos de relações desprotegidas, por que razão continuam a arriscar ?” Era difícil de entender na altura, mas, com o tempo e um olhar mais atento, percebi que a resposta está no *prazer imediato*. A recompensa instantânea parece, para muitos, ser mais atraente do que os riscos futuros.

Este fenómeno não se aplica apenas ao sexo desprotegido, mas também ao consumo excessivo de álcool, ao uso de drogas e até a hábitos alimentares desequilibrados. A busca pelo prazer imediato vence, muitas vezes, a prudência e a consciência das consequências de longo prazo. O prazer momentâneo que sentimos hoje, seja ele através de uma relação sexual sem protecção, de um cigarro, de uma bebida ou de uma refeição cheia de açúcar e gordura, parece sempre muito mais sedutor do que o potencial dano que poderá surgir no futuro.

A ciência, mais precisamente a neurociência, tem uma explicação para isso. O nosso cérebro é programado para procurar recompensas imediatas. O prazer que sentimos ao satisfazer desejos instantâneos libera substâncias como a dopamina, o que nos faz sentir bem, relaxados, e até eufóricos. Este ciclo de busca por prazer rápido torna-se, assim, uma armadilha.

Voltemos ao exemplo das relações sexuais desprotegidas. Mesmo sabendo dos riscos de gravidez indesejada e doenças sexualmente transmissíveis, muitas pessoas deixam-se levar pelo calor do momento, pelo prazer do agora. A mesma lógica se aplica ao álcool e às drogas. Muitos sabem dos efeitos nocivos a longo prazo, mas no momento, é o alívio da ansiedade, o “esquecimento” temporário dos problemas ou a sensação de relaxamento que vence.

Outro factor que pesa para a nova geração é que não viram ninguém morrer de SIDA ou outra doença sexualmente transmissível, o pessoal da década de 70 e 80 viram muita gente próxima e não só morrer de SIDA, até famosos se foram, então a consciência e o medo parecia maior, hoje pouco ou nada se ouve a respeito, fazendo com que pareça não existir problemas no que tange a doenças.

Lembro-me de conversar com pessoas que, após se arrependerem de certos comportamentos, diziam: “Eu sabia que não devia, mas fiz na mesma. Na hora, parecia a escolha certa. Não podia perder a oportunidade” E quantos de nós já não tivemos momentos assim? Momentos em que, por uma fracção de segundo, optámos pelo prazer imediato, ignorando as consequências que nos aguardavam lá à frente?
Tem uma música antiga do rapper Valete intitulada Roleta Russa, que ouvia muitas na juventude, o linguajar é obsceno, mas a mensagem é muito forte e tem tudo a ver com o tema de hoje.

O desafio hoje é aprendermos a equilibrar a balança entre o prazer de hoje e o bem-estar de amanhã. É a consciência de que cada escolha tem um peso e que, embora o prazer imediato seja tentador, as suas consequências podem ser devastadoras.

E aqui surge a grande questão: Estamos dispostos a pagar o preço do prazer imediato com o nosso futuro? Ou será que é possível encontrar prazer e felicidade num equilíbrio mais saudável, onde as nossas escolhas de hoje não sabotem os nossos dias de amanhã?

Que esta partilha matinal seja um convite para avaliarmos as nossas acções diárias e as suas consequências. A vida é curta, sim, mas a nossa saúde física, mental e emocional merece um cuidado que vá além do agora.

Que Deus abençoe a sua jornada e lhe dê a sabedoria para equilibrar prazer e responsabilidade, sem perder a alegria de viver. Receba o meu abraço carinhoso, e a promessa de voltar amanhã para mais uma partilha matinal.

N’gasakidila

Por: Lídio Cândido (Valdy)

https://www.instagram.com/lidio_vlademiro

https://partilhasmatinais.blogspot.com

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