Os angolanos celebram hoje o 58º aniversário do início da Luta Armada de Libertação Nacional, na esperança que incentive as novas gerações nos processos de consolidação da paz, reconciliação nacional e reconstrução do país, bem como fortaleça em cada angolano o sentimento patriótico.
Com este objectivo, pretende-se essencialmente atingir níveis de desenvolvimento que permitam instaurar o bem-estar de todos e consolidar o Estado Democrático e de Direito no país, de forma a honrar o punhado de bravos que deu o melhor de si em prol da independência.
O que aconteceu naquele dia foi um acto heróico que se tornou maior e quase incrédulo aos “olhos” internacionais, por ter sido desproporcional.
Homens com armas brancas atacaram guarnições que tinham efectivos armados de espingardas de repetição, semi-automáticas e automáticas.
Claro que o resultado imediato não foi a contento (mais de 40 mortos entre os insurgentes e seis da força colonial) mas a acção ficou conhecida no país e internacionalmente e deu impulso ao movimento de contestação armada que se seguiu, aliado à luta política.
Como um rastilho, a consciência dos angolanos despertou para a necessidade de libertação. Jovens envolveram-se em actividades políticas clandestinas contra a ocupação colonial, enquanto outros abandonaram o conforto dos seus lares para “abraçarem” a luta armada no interior do país que culminou com a Independência Nacional, a 11 de Novembro de 1975.
Versões sobre a acção
De acordo com historiadores, estima-se entre 200 e 250 angolanos como protagonistas do “4 de Fevereiro de 1961”. Eles atacaram a Casa de Reclusão, a Cadeia da 7ª Esquadra da Polícia, a Sede dos Correios, Telégrafos e Telefones (CTT) e a emissora oficial de Angola.
Há três versões sobre essas ocorrências, mas todas coincidem quanto à utilização de armas brancas. A primeira diz que os angolanos armados de catanas, em quatro direcções, atacaram aqueles locais.
A segunda versão aponta que o descontentamento do sistema colonial era tanto que células de Luanda (na sua maioria do MPLA) desenvolviam actividades políticas na clandestinidade.
O plano de ataque consistia em dois grupos (células) que investiriam contra dois objectivos militares, designadamente a Casa de Reclusão e a Cadeia da 7ª Esquadra da Polícia.
Desta acção conseguiriam armas de fogo para atacar a emissora oficial e os CTT. Com este último, poder-se-ia informar ao mundo das revoltas dos angolanos contra o poder português colonial.
O MPLA, logo após às ocorrências, reivindicou a autoria moral do “4 de Fevereiro”.
A terceira versão associa as duas primeiras e conta de forma quase anacrónica os factos. Tudo Começa com o ataque à Casa de Reclusão.
O insucesso deste ataque dispersou os seus protagonistas. Simultaneamente, dois outros grupos que se preparavam dispersaram-se. É assim que se realiza uma emboscada, onde é morto um cabo português.
Os revoltados apoderaram-se das suas armas e dirigiram-se à 7ª Esquadra da Polícia, numa ofensiva, cujo insucesso resultou em mais de quarenta mortos e muitos prisioneiros.
Visto que Luanda tem a característica de pluralidade sociocultural, admite-se que pouco se importavam da cor partidária, na altura. Os angolanos queriam apenas a sua libertação.
Versão Oficial
Na madrugada do dia 4 de Fevereiro de 1961, grupos de guerrilheiros angolanos, comandados por Neves Bendinha, Paiva Domingos da Silva, Domingos Manuel Mateus e Imperial Santana, num total de duzentos homens armados com catanas, desencadearam uma série de acções na cidade de Luanda,
Um desses grupos montou uma emboscada a uma patrulha da Polícia Militar, neutralizando os quatro soldados, tomando-lhes as armas e as munições. Com o objectivo de libertar os presos políticos, assaltaram a Casa da Reclusão Militar, o que não conseguiram.
Outros alvos foram à cadeia da PIDE, no Bairro de São Paulo, e a cadeia da 7ª Esquadra da Polícia de Segurança Pública (PSP), onde havia também presos políticos. Tentaram igualmente ocupar a “Emissora Oficial de Angola”, estação de rádio ao serviço da propaganda do Estado.
Nestas acções, morreram quarenta guerrilheiros, seis agentes da Polícia e um cabo do Exército Português, junto à Casa da Reclusão.
A coragem e determinação destes combatentes que, na noite do dia 4 de Fevereiro de 1961, decidiram enfrentar o regime colonial português, utilizando instrumentos rudimentares, com destaque para a catana, simbolizada na bandeira nacional, abriu caminho à conquista da independência nacional.
Três grandes lições relacionam-se ao “4 de Fevereiro” nos dias de hoje:
– Lutar sempre que possível para libertar-se e nunca permitir ser escravizado por ninguém, nem sequer por qualquer sistema escravizador.
– Apesar do insucesso (nenhum dos presos foi libertado, como se pretendia), nunca mais os angolanos aceitaram qualquer domínio externo.
– Resistir contra a ingerência dos países estrangeiros nas questões públicas de Angola, nunca mais privar os angolanos da sua liberdade política e económica, garantia de soberania.