FÉRIAS, CASA CHEIA E GELEIRA SEMPRE VAZIA

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Chegaram finalmente as tão esperadas férias escolares. E com elas, a casa ganha outro ritmo, ou, para ser mais exacto, perde completamente o que tinha.

Acordar cedo já não é prioridade, os horários dissolvem-se e a ordem doméstica entra numa espécie de estado de emergência silencioso. As divisões enchem-se de vozes, de risos, de passos apressados de um lado para o outro. E a geleira… essa vive a sua própria crise. Abre-se a porta e é quase como entrar num deserto. “Já não há nada?”, pergunta-se, mesmo sabendo que se fez compras há dois dias.

É incrível como os lanches se multiplicam e as refeições parecem duplicar. Há sempre alguém a petiscar, a procurar “qualquer coisa para comer”, como se o tempo livre viesse com um apetite extra incorporado. E a cozinha, essa, nunca mais fecha.

A rotina vira do avesso. A sala parece campo de batalha, há almofadas no chão, toalhas em cima das cadeiras, brinquedos nos sítios mais improváveis e chinelos desaparecidos em acção. Os adultos tentam manter alguma ordem, um resto de sanidade, mas sabem que estão em minoria.

E, no entanto, há uma beleza muito própria neste caos. Porque as férias também trazem oportunidades. Há tempo para conversas que durante o ano lectivo ficam adiadas. Há espaço para jogos em família, para histórias partilhadas, para gargalhadas inesperadas. Há tempo, sobretudo, para estarmos presentes uns com os outros, não apenas no corpo, mas com atenção verdadeira.

Nem sempre é fácil. Há dias em que a paciência parece pouca, em que o cansaço se acumula, e em que o pensamento escapa para a contagem decrescente até Setembro. Mas mesmo nesses dias, há pequenos instantes que valem a pena: um abraço apertado, uma pergunta inocente, um desenho feito com carinho.

As férias passam depressa. A casa voltará à sua rotina, os corredores voltarão a ter silêncio, e os horários, o seu lugar. Mas o que vai permanecer são os momentos que se criaram agora, ou os que se desperdiçaram porque o foco estava apenas na desorganização.

Talvez o verdadeiro desafio seja aprendermos a abraçar esta confusão com um sorriso. A encontrar sentido no imprevisto. A lembrar-nos que, entre a geleira vazia e o cansaço acumulado, há uma infância a acontecer. E essa, não volta atrás.

Que Deus abençoe a sua jornada e lhe conceda leveza e alegria neste tempo de férias em família.

Receba o carinhoso e apertado abraço, bem como a promessa de voltar para mais partilhas matinais.

N’gassakidila.

Por: Lídio Cândido (Valdy)

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