O angolano António da Silva é campeão de França e campeão do mundo em título pela selecção francesa de basquetebol para atletas com …
António da Silva chegou à Europa como refugiado, mas o basquetebol resgatou-o de um passado difícil e das memórias de uma guerra fratricida no seu país natal.
O jogador, de 45 anos, aprendeu a jogar basquetebol quando era criança, nas ruas de Luanda, e hoje é campeão mundial em título no basquetebol para atletas com deficiência intelectual.
“A minha história de basquetebol não começou na Europa, começou em África, em Angola. Sou um rapaz que vem de muito longe, de sofrimento, de guerra. A paixão pelo ‘basket’ foi através de amigos de infância que já jogavam e eu seguia-os”, contou.
Aos 16 anos, foi “apanhado para ir para a tropa” e enviado de avião para Malanje para a guerra. Cinco anos depois fugiu e os pais compraram-lhe um bilhete para Lisboa.
Na capital portuguesa, viveu clandestinamente nos primeiros tempos, retomou a paixão pelo basquetebol e chegou à selecção portuguesa. O preço a pagar foi a troca do seu nome: no ‘playground’ era o português Carlos Luz e não o angolano António da Silva.
Mais tarde, o jogador emigrou para França, onde hoje é também campeão francês da modalidade, com o clube Sport Adapté de Choisy-le-Roi.
Esta sexta-feira, em Paris, António esteve perto de ser campeão na final dos Primeiros Jogos Europeus de Verão da Federação Internacional para Atletas com Deficiência Intelectual (INAS), mas perdeu frente a Portugal, por 61-60.
O jogador sonha voltar aos paralímpicos, uma competição em que representou duas vezes Portugal, em Sydney (2000) e em Atenas (2004), mas na Grécia esteve apenas em modalidade de demonstração e não em competição.
Desde os jogos de Sidney, em 2000, os atletas com deficiência intelectual foram excluídos dos paralímpicos após a revelação de que a seleção espanhola de basquetebol, vencedora da medalha de ouro, só tinha dois jogadores com deficiência intelectual num total de 12.
António tem dificuldades auditivas e de noções espácio-temporais, mas à primeira vista não se nota qualquer deficiência. “É preciso um trabalho de divulgação” sobre os problemas cognitivos presentes no Desporto para Atletas com Deficiência Intelectual, concluiu, em jeito de desabafo e apelo.