Bruno Pegado é um jovem angolano que pretende montar uma fábrica de automóveis made in Angola. Não se trata de uma simples fábrica de montagem de uma marca já existente, mas, segundo o Jornal o País, serão automóveis originais, inclusive a marca terá o nome do seu promotor. Quer isto dizer que uma vez concretizado o projecto da fábrica de automóveis do Bruno Pegado teremos, pela primeira vez, uma marca de automóveis nacional.
Bruno Pegado, ambicioso no bom sentido, não ficou por aí, e, para alargar o seu negócio, pretende lançar ainda este mês um sistema de serviços de táxi de uso pessoal e de transporte de mercadorias designado de “Gira Angola”.
Se a necessidade de Emprego em Angola é gritante, como ficou patente nos últimos dias, estando o desemprego a rondar os 29% da população activa, não se entende a falta de atenção das autoridades angolanas a estes dois projectos, que segundo o seu promotor podem criar a montante mais de 60 mil postos de trabalho ( 60 mil no Gira Angola e o restante na fábrica).
Somos de opinião que o Estado deve prestar atenção ao projecto do Bruno Pegado, sem prejuízo de outras iniciativas de igual ou maior importância.
O Estado não deve dar apenas atenção ao Bruno Pegado, mas a todos aqueles que tenham iniciativas válidas para a empregabilidade em Angola.
Mas vamos tomar como paradigmático o caso do Bruno Pegado que tem características únicas e, se funcionar, outros projectos de empregabiliadade massiva poderão seguir os standards de soluções que vamos propor nesta exposição.
O que pode o Estado fazer ?
O Estado, como pessoa jurídica de bem, deve apoiar o Bruno Pegado e tomar as seguintes medidas face à dimensão dos dois Projectos:
1. Análise da viabilidade económica e técnica dos Projectos.
O Estado deve certificar se o projecto da fábrica de automóveis tem viabilidade técnica e económica.
Como é do conhecimento geral, a montagem de uma fábrica de automóveis requer uma complexidade técnica não só na sua instalação como na intrincada multiplicidade de fornecedores de componentes e peças invariavelmente associados, sem prejuízo dos constrangimentos habituais inerentes a criação de indústrias no território nacional.
Quanto ao projecto de Gira Angola, basta a confirmação sua viabilidade económica para que o Estado ou uma instituição financeira apoie os projectos.
1.1. Viabilidade económica
O Estado, através de uma das suas entidades vocacionadas para o efeito, ou contratando uma terceira especializada ( para garantir a imparcialidade) deve examinar a viabilidade económica e social dos dois projetos do Bruno Pegado.
1.2. Viabilidade técnica
Os automóveis que serão produzidos pela fábrica de automóveis do Bruno Pegado devem possuir certificação internacional.
Por isso, antes da montagem da fábrica e início da produção industrial, deve-se, previamente, testar um protótipo e obter-se a certificação de um organismo que cuida da qualidade e segurança dos automóveis a nível mundial.
Se os exames técnicos forem favoráveis e o Bruno Pegado obtiver a certificação de um organismo internacional credível e, a isso juntar a confirmação da viabilidade económica dos dois projectos, ainda que sejam com eventuais ajustes, então passemos, rapidamente, as fases seguintes, a saber ;
2. Criação de condições de materialização dos projectos.
Para a materialização dos dois projectos há quatro fases que devem ser observadas, nomeadamente ;
2.1. Mobilização de financiamentos
Para a materialização dos seus projectos, o Bruno Pegado precisa de financiamentos e, segundo este promissor empreendedor, a banca nacional não tem sido receptiva, tendo recorrido às instituições financeiras fora de Angola que o têm apoiado até a fase em que se encontra – montagem da fábrica de automóveis no Kwanza Sul.
Entretendo, segundo fez saber, o referido financiamento não é suficiente para materialização completa dos projectos.
Por isso, o Estado deve apoiar financeiramente, através de crédito a ser concedido por uma das suas instituições bancárias ( bancos de capitais públicos e de participação de capitais públicos), ou os enquandrando numa das linhas de financiamento obtidas pelo Estado no exteriores do país.
Outra solução, devido a magnitude e importância do projecto, é a entrada do Estado no capital social da empresa do Bruno Pegado e tornar a marca com cunho e proteção estatal, tal como acontece em muitos países do mundo, contando que a governação da mesma seja corporativa privada e sem prejuízo dos direitos originários e interesses do Bruno Pegado.
2.2. Criação de condições fiscais de incentivo aos dois projectos
O Estado deve criar incentivos fiscais para os referidos projectos, mediante o enquadramento no regime fiscal mais favorável, aplicáveis a projectos desta natureza, ou e deve criar novos incentivos fiscais se for necessário.
2.3. Apoio institucional do projecto.
O Projecto do Bruno Pegado deve ter o acompanhamento de uma instituição pública que possa dar o suporte administrativo para facilitar a obtenção das licenças e autorizações necessárias a concretização, dentro dos prazos previstos no programa de execução e de financiamento.
2.4. Indicação de uma consultora Independente
O Estado deve indicar para acompanhamento dos dois projectos do Bruno Pegado uma consultora credível a nível internacional com intuito de fiscalizar e controlar os projectos desde o início e durante a execução dos mesmos.
Por isso, vamos abraçar iniciativas como essa que concorre para diminuição do desemprego e agrega outras mais valias socioeconómicas para além da salutar promoção do gênio angolano e a imagem do País.
Segundo o Bruno Pegado, citado pelo Jornal o País na sua edição de hoje segunda feira dia 9 de Setembro de 2019, há 15 países africanos interessados em aderir ao projecto da fábrica de automóveis.
Essa possibilidade de se replicar o projecto em África, vem confirmar a ideia que aponta a cooperação sul-sul como o caminho mais eficaz para o desenvolvimento dos países africanos, abandonando de vez o receitário gasto do FMI, que só tem agravado a dependência dos países em vias de desenvolvimento.
Todavia, voltando ainda a questão de base, pensamos que o projecto do Bruno Pegado se enquadra também na proposta da criação do Novo Fundo de Emprego por nós avançada noutro lugar (Pensando Angola n. 15).
O Projecto Gira Angola, onde se pretende disponibilizar carros fabricados em Angola pode ser financiado pelo Novo Fundo de Emprego ou pelo Banco de Micro-Credito, sugerido, no âmbito desta iniciativa de empregabilidade.
Desse modo, o BDA, por exemplo financia o Projecto do Bruno Pegado a montante para conclusão da montagem da sua fábrica de automóveis e o Novo Fundo de Emprego ( ou o Banco de Micro-crédito), ajusante, financia a aquisição das viaturas para as pessoas físicas, para as micros e pequenas empresas ou para as cooperativas interessadas em aderirem ao projecto Gira Angola.
Como se vê, trata-se de uma óptima oportunidade que o Executivo tem de ensaiar uma nova abordagem e atitude com vista o relançamento e promoção do sector privado.
Com o apoio institucional aos projectos do Bruno Pegado, no formato acima proposto, estará o Executivo a dar um importante sinal de apoio à toda a classe empresarial angolana.
O projecto do Bruno Pegado contém angolanidade na essência, originalidade na ousadia ambiciosa impactante e, empregabilidade massiva como bandeira de utilidade.
No passado, magníficos projectos tão nobres e bem intencionados como este “morrem na praia” e, no momento, iniciativas há engavetadas por falta da atenção do Estado e das instituições financeiras do nosso mercado, designadamente da banca nacional, motivos suficientes para nos levar fazer o presente apelo ao Estado.
Acreditemos e ajudemos agora o Bruno Pegado a decolar os seus projectos para que a montante e ajusante se criem importantes e significativos postos de trabalho, para que o Estado arrecade mais receitas com essas iniciativas, para que haja sustentabilidade das actividades ( peças e manutenção dos automóveis garantidas), para que surja a economia de escala, que se forme clusters industrias, para que todos nos orgulhemos do automóvel made in Angola, e, mais importante que tudo, para que o apoio do Estado, aos projectos de Bruno Pegado sirva de Marco de uma Nova Era em que o angolano esteja, efectivamente, no centro das políticas públicas.
E por agora, mais não digo..