O presidente da Assembleia Nacional considerou o deputado Raul Danda, falecido na manhã de ontem (08/05/21), aos 64 anos, por doença, “um político comprometido com o país”.
Numa nota de condolências, Fernando da Piedade Dias dos Santos sublinha que Raul Danda sempre foi interventivo nos debates e desempenhou as funções com brio.
O secretário-geral da UNITA, Álvaro Daniel, disse, ao Jornal de Angola, que a morte de Raul Danda não é apenas uma perda para o partido e para Assembleia Nacional, mas para o país. “Conhecemos o dr Raul, as suas valências políticas e técnicas e, portanto, é o país que perde um dos melhores filhos”, afirmou.
O Grupo Parlamentar da UNITA considera que Raúl Danda foi um “quadro exemplar, patriota destemido, poliglota, homem de letras, cultura e arte, mobilizador e defensor acérrimo dos menos equipados e da identidade angolana e africana, tendo servido com brio e dedicação as tarefas incumbidas”.
Num comunicado, a bancada da UNITA refere, ainda, que o deputado inspirou várias gerações no partido e na sociedade, pela sua dedicação às causas em que acreditou, pelas suas contundentes e bem fundadas intervenções nos debates parlamentares e demais espaços públicos, sempre acompanhadas de um ditado em ibinda, sua língua materna.
“De trato fácil e disposto a servir, colocou-se sempre à disposição para qualquer solicitação do Grupo Parlamentar, para o cumprimento de tarefas de programação, no contacto com os cidadãos e no apoio moral e material aos que dele precisassem”, lembra o Grupo Parlamentar, para quem a morte de Raul Danda “retira do nosso seio um valioso e distinto servidor de Angola”.
UNITA: “Perdemos um advogado do povo”
Álvaro Daniel caracterizou Raul Danda como “um companheiro” que se bateu sempre pela paz, pelo bem-estar das pessoas, democracia, desenvolvimento do país e inclusão dos angolanos, concluindo que a sua morte “é uma grande perda, porque perdemos um advogado do povo e da sociedade em si”. Ainda na óptica do secretário-geral da UNITA, no Parlamento perdeu-se “um grande combatente com ideias firmes e próprias”. “Os seus discursos eram sempre de conteúdo e propriedade. Os jornalistas perdem um grande colega e fazedor de opinião”, frisou.
Para o deputado Manuel “Nelito” Ekuikui, da UNITA, a morte de Raul Danda representa, para o país, uma “perda irreparável”. O também secretário provincial de Luanda disse que, nos debates políticos, o deputado sempre primou pela diferença de opiniões.
“O país perdeu um grande quadro e um filho que soube estar a altura dos desafios que eram colocados à sua frente”, considerou Nelito Ekuikui, para quem “o jornalismo perdeu uma grande voz e o Parlamento um dos seus melhores deputados, que sabia debater na base do respeito e da diferença”.
Numa nota de condolências, o Colégio Presidencial da CASA-CE lamenta a morte de Raul Danda que considera ter sido “um deputado destemido na defesa dos mais nobres ideias do povo, político de refinada inteligência e urbanidade, compatriota abnegado e de uma empatia e simpatia assinaláveis”.
A CASA-CE considera, também, a morte de Raul Danda como “duro golpe à democracia, pluralidade de ideias e liberdade de expressão”, cuja partida deixa um enorme vazio no processo de construção do Estado Democrático em curso em Angola.
O Ministério das Telecomunicações, Tecnologias de Informação e Comunicação Social considera que a morte de Raul Danda que, na década de 1990, exerceu as funções de jornalista da RNA, “uma grande perda no cenário político angolano”, ao qual deu “valiosa contribuição para a constituição e consolidação do Estado Democrático e de Direito”.
Informação da clínica
Uma informação médica da Clínica Sagrada Esperança de Talatona, onde Raul Danda deu entrada, dirigida à Direcção Provincial do Serviço de Investigação Criminal (esquadra do Talatona) refere que a morte foi extra-hospitalar.
Refere que o deputado, hipertenso, chegou àquele estabelecimento hospitalar com escolta e o filho mais novo. Contaram que Danda acordou com cansaço e respiração acelerada, ligaram ao pastor e rezaram pelo telefone.
Em seguida, foi a casa de banho, caiu na sanita, não voltou a acordar, estava sem pulso e não respirava. “Começaram a fazer as massagens cardíacas em casa e no trajecto para a urgência da Clínica Sagrada Esperança, Talatona, (onde chegaram) por volta das 11 horas”, lê-se na informação.
A clínica diz que o deputado apresentava-se como “doente muito grave, com sinais de paragem cárdio-respiratória irreversível, em coma, com 0/15 pontos na escala de Glasgow, mau estado geral, obeso, apirético e anictérico, hipocorado, pupilas midriatricas e isocóricas não reactivas à luz, com rigidez cadavérica e extremidades frias”.
Acrescenta que o “tipo constitucional” era “longilíneo, fáscies característico de processo patológico, tórax completamente insuflado, sem murmulhos vesiculares e sem sons cardíacos”. O abdómem apresentava-se “globoso à custa de tecido adiposo, simétrico, sem movimentos respiratórios, sem estrias nem circulação colateral, ruídos hidro-aéreos ausentes”.
Os membros superiores e inferiores estavam com as extremidades frias. O resultado do electrocardiograma detectou a “presença de assistolia”. “Realizaram-se manobras de ressuscitação cárdio-pulmonar sem sucesso e, por volta das 11h15 minutos foi confirmado o óbito”, conclui a Clínica Sagrada Esperança de Talatona que coloca à disposição do SIC o corpo do deputado para os devidos procedimentos legais.
PERFIL
RAÚL MANUEL DANDA
Natural de Cabinda, nasceu a 13 de Novembro de 1957.
Licenciado : em Gestão de Empresas e Ciências Económicas pela Universidade Lusíada de Angola.
Funções
Até à data da morte exerceria o cargo de presidente da 10ª Comissão da Assembleia Nacional, especializada em assuntos dos Direitos Humanos, Petições e Sugestões dos Cidadãos.
Antes disso, foi jornalista na Rádio Nacional de Angola, actor de televisão e de cinema.A nível partidário, foi presidente do Grupo Parlamentar e vice-presidente da UNITA. No último congresso, em Novembro de 2019, foi um dos candidatos à liderança do partido, eleição da qual foi vencedor Adalberto Costa Júnior.