Acordo com a necessidade biológica insana de rebocar as paredes estomacais e, mesmo antes da higiene matinal, dirijo-me à cozinha para ver alguma coisa que aquietasse o bicho que me fatigava mesmo antes do cantar do galo. Abro a geleira só o leite das crianças. Na despensa só iguarias para temperos que a minha ignorância masculina e machismo desconheciam. Tinha de comer alguma coisa, pois, as chances de fenecer já atingiam o nível 8 numa escala de 10. Havia um pedaço medroso de pão. Seu rosto clamava para não ser comido. Assim o fiz. Preferi preparar um mingau de Cerelac só para fintar os malditos jogadores do estômago para tão logo o sol começasse seu dever laboral eu pudesse adquirir mais alguns pães e que não tivessem um aspecto apavorado.
Desço rápido até à padaria da esquina mas cauteloso para que não fosse visto por agente da ordem algum e me fossem açoitado alguns porretes pela estrutura óssea dada a “indisciplina” mal percebida do incumprimento do isolamento.
Quando pensava que estava tudo bem, eis que depois de adquirir o “breda” dois agentes de ordem pública aproximavam-se. Entrei num pânico disfarçável. Sentei num dos bancos públicos para fingir que estava tudo bem. Cá para mim disse: Hoje é hoje: surra no preto teimoso. Eis que um deles, educadamente, encostou: Bom dia. Evite fazer uso de bancos públicos por causa do momento que estamos a viver. Nunca se sabe quem esteve aí.
Pelo que mal ele acabou de falar levantei e agradeci o conselho sacudindo as nádegas a ver se algum Corona caísse, caso tivesse a ousadia de ficar colado às calças.
Continuei minha rota. Lembrei ao meio do caminho que faltava alguns bens de primeira necessidade e, já que estava na rua, aproveitei para ir a uma loja próxima e adquirir. Todo o cuidado era pouco. Nalguns estabelecimentos comerciais notava-se a prudência das pessoas no trato, os espaços de 2 metros de distância e tal, tudo numa linda calma. Por um caminho em que passava observo uma pequena enchente. Nesta fase estou a evitar aglomerações. Atravesso a estrada e na mesma direcção que eu ia um casal de velhinhos. Não queria passar entre eles. Decidi então passar do lado do senhor. No seu passo à camaleão parou por um instante. Eu acelero e tento passar. Foi quando ele sem prestar atenção cuspiu e algumas gotículas da saliva atacaram meu braço esquerdo. Escapei chorar. Entrei em pânico.
Como pode um velho em tempo de Corona cuspir assim no outro? Ele pedia todas as desculpas do mundo com o português afinado e cheio de arrependimento mas eu não queria saber. Se ele tivesse Covid eu também já teria. Lembrei meus amigos que me disseram para não viajar. Pensei na minha filha. Comecei a chorar na rua. Peito começou a doer. Comecei a tossir a toa, acho que por força do psicológico. A polícia chegou para levarem-me ao hospital. Fiquei renitente. Eles insistiam para que entrasse no carro, pois eu já parecia uma pessoa com sintomas. Refilei. Um deles tira um aparelho de choque e bate-me no pescoço… Foi quando acordei assustado e atrapalhado. Sentei à beira da cama. Por segundos disparatei em silêncio mas depois comecei a rir sozinho.
Esse mambo dá medo, Xe!
FIQUEM EM CASA YA!