O herói da independência da Namíbia e primeiro presidente do país, Sam Nujoma, morreu no sábado aos 95 anos, anunciou hoje a Presidência namibiana.
Samuel Daniel Shafiishuna (para sempre conhecido como Sam Nujoma) nasceu a 12 de Maio de 1929 de uma família da tribo Gamberona, na aldeia Etunda na Ovamboland, ou terra dos Ovambos (que são 49,5 por cento da população actual da Namíbia), povo de pastores do Norte da Namíbia e do Baixo Cunene – muita da luta de Nujoma e dos seus homens foi feita a partir de território angolano, onde a SWAPO (South West Africa People’s Organization) contava com o apoio do MPLA.
O mais velho de 11 irmãos, andou desde cedo com o gado, cultivou o campo, ajudou em casa. Estudou na escola da missão finlandesa de Okahao antes de se mudar para casa da tia em Walvis Bay, junto à costa, onde começou a trabalhar numa loja aos 17 anos. Veio a II Guerra Mundial e Sam Nujoma começava a abrir os olhos para as coisas do mundo, cruzando-se com soldados que vinham de muitas partes da Europa e da Argentina. Foi o seu curso intensivo de política internacional.
Mas seria apenas depois de se mudar para a capital, Windhoek, e entrar no caminho-de-ferro (South African Railways) que a sua participação na luta pela autodeterminação do Sudoeste Africano começaria. Voltou aos bancos da escola, à noite, para acabar o liceu, conseguindo depois o bacharelato por correspondência na Universidade Trans-Africa. Demitiu-se do caminho-de-ferro aos 29 anos para dedicar a sua vida à política.
Em 1959 foi eleito líder da Organização do Povo Ovambo que advogava o fim do sistema de contratados e da administração colonial sul-africana, e a adopção de um verdadeiro sistema de tutela internacional das Nações Unidas. Nujoma com Uatja Kaukuetu e Moses Garoeb liderariam a resistência organizada contra a remoção dos habitantes de uma das zonas de Windhoek denominada Old Location (velha localização), onde estava segregada a população negra, para dar lugar a um bairro para brancos.
O local para onde acabaram por ser enviados foi baptizado pelos próprios como Katutura ( o lugar onde ninguém quer viver na linguagem dos hereros). Mas não foram sem resistência. E a resposta das autoridades sul-africanas foi sanguinária a 12 de Dezembro de 1959: 12 pessoas foram mortas e dezenas ficaram feridas. Sam Nujoma seria preso, acusado de organizar os protestos. A 1 de Março de 1960 conseguiria fugir para o exílio através do protectorado britânico da Bechuanalândia (hoje Botswana), Rodésia do Sul (actual Zimbabwe), Rodésia do Norte (Zâmbia), Tanganica (que com Zanzibar forma na actualidade a Tanzânia), Quénia e Sudão. Passaria depois pelo Gana e pela Libéria até chegar aos Estados Unidos em Junho desse ano.
No Sudoeste Africano, a SWAPO seria criada e Nujoma eleito presidente em absentia. Voltaria em Março de 1966 de avião, acompanhado pelo actual presidente Hifikepunye Pohamba, para testar o governo sul-africano, depois do Tribunal de Justiça Internacional de Haia ter decretado que os namibianos no exílio poderiam voltar. Nem conseguiram deixar o aeroporto, a polícia estava à espera deles. Presos, seriam logo a seguir expulsos para a Zâmbia (independente desde 1964). Seria o último teste do pacifismo da luta contra o apartheid sul-africano.
O seu regresso a seguir seria com armas que só deixaria muitos anos depois, quando o poderoso exército da África do Sul emergia lastimado da maior batalha que o solo africano conheceu desde a II Guerra Mundial: Cuito Cuanavale. Lastimado a ponto de precipitar a independência da Namíbia e o fim do regime segregacionista sul-africano.
A SWAPO, como se esperaria, saiu vitorioso das primeiras eleições da Namíbia independente. E Sam Nujoma, o pai fundador da nação, sem qualquer questionamento, tornar-se-ia no seu primeiro presidente. Ficou 15 anos, porque também ele não resistiu à tentação de alterar a Constituição para garantir um terceiro mandato. No entanto, ao contrário do que aconteceu no Zimbabwe e em Angola, Nujoma chegou ao fim desse termo e retirou-se, garantindo a transição pacífica para o seu sucessor, o homem com quem havia sido preso em Março de 1966 no aeroporto de Windhoek.
“Sempre nos iremos recordar do apoio incondicional e da solidariedade prestada ao povo namibiano pelo governo e o povo de Angola, durante a nossa longa e penosa luta até à obtenção da nossa liberdade e independência a 21 de Março de 1990”, escreveu Sam Nujoma na mensagem de parabéns enviada a José Eduardo dos Santos, por ocasião do 72.º aniversário do ex-presidente angolano.
Paz à Sua Alma.
Fonte: http://m.redeangola.info, consultada por Jaime Gabriel, no dia 09 de Fevereiro de 2025.