Por vezes penso que o mundo desenvolvido tem um talento especial para comédia. Uma comédia tão boa, tão bem escrita, que se tu parasses dois minutos para pensar, choravas em vez de rir.
Mas pronto… cá estamos nós, os do “Terceiro Mundo”, a ver o filme.
Então vamos lá: os países que passaram 200 anos a poluir o planeta como se fosse um WC de rua, agora querem nos convencer que nós é que temos de “reduzir emissões”.
Nós.
Os mesmos que em termos de industrialização estamos uns 100 anos atrás.
É tipo o vizinho que te acusa de fazer barulho, mas ele tem uma banda de Kuduro a gravar um vídeo clipe no quintal desde as 06:30 de domingo.
Depois vêm com aquele discurso fofinho da “transição energética justa”.
Justa para quem?
Para eles, claro. Eles inventam as regras, eles certificam, eles vendem as máquinas, eles produzem as tecnologias.
Nós? Compramos.
E calamos a boca.
E quando pedimos transferência de tecnologia, respondem com aquela generosidade europeia tão típica:
“Sim, claro! Vamos transferir… em princípio… talvez… um dia… olha, afinal não deu… mas toma aí 15 milhões para proteger a floresta… e não te esqueças de comprar os nossos painéis solares, que só custam…olha que coincidência 15 milhões.”
Depois perguntam por que razão África continua pobre.
Eu explico:
Porque querem que continuemos a exportar petróleo bruto, cacau bruto, café bruto, minério bruto… tudo bruto.
A única coisa refinada que eles aceitam de nós são os discursos dos nossos presidentes nas cimeiras.
Agora, se disseres:
“Vamos construir fábricas, vamos transformar o que temos aqui, vamos criar empregos decentes que pagam mais do que 700.000,00 mil kwanzas por mês”…
Aí já és irresponsável, poluidor, inimigo do planeta, terrorista climático.
Enquanto isso, as fábricas deles continuam a transformar os nossos recursos nos empregos deles. Algumas na Ásia, as mais limpas em casa, mas todas deles.
Eles ficam com os engenheiros, os cientistas, os salários gordos.
Nós ficamos com as enxadas, os capacetes e o pó.
É a colonização versão premium:
os lucros ficam lá em cima, a pobreza fica cá em baixo.
E depois chamam a isso “equilíbrio económico”.
E eu?
Eu só pergunto:
Se o planeta está mesmo em perigo, porque é que quem poluiu mais é quem manda nas regras?
E porque é que quem poluiu menos é que tem de pagar a conta?
Fácil: porque a crise climática é real…
Mas a armadilha climática também é.
E nós estamos nela há décadas. A sorrir, a agradecer, e ainda a aplaudir como se fôssemos nós os culpados de o planeta estar a morrer.
Enfim… os desenvolvidos querem “salvar o mundo”.
Mas primeiro, querem salvar o seu privilégio.
E nós?
Nós continuamos a exportar matéria-prima…
…a importar moralidade e continuaremos pobres saltando de armadilha para armadilha.
Por: Ademar Rangel
















