A vida dos “homens-aranha” que atormentam as centralidades

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Retratos de crianças cuja vida se reparte entre as celas policiais e o assalto aos apartamentos do Kilamba e KK 5000, escalando edifícios de até 7 ou 8 andares descalços e sem qualquer meio de protecção, uma cena que leva à memória o lendário filme homem-aranha. Aliás, é deste modo que ficaram conhecidos entre a polícia do município de belas, em luanda, e os detentos que passam pela esquadra 51.

A altura dos edifícios não os amedronta, tão pouco a possibilidade de serem apanhados e detidos pelos agentes da ordem. Estar numa cela de polícia, misturado com criminosos comuns (adultos), parece ser algo normal para um grupo de crianças/adolescentes que têm a prática de furtos aos apartamentos como modo de vida.

A inspiração vem do homem aranha, o lendário “Spider Man” americano, um super-herói, cujas habilidades são imitadas pelos petizes para escalarem prédios, preferencialmente no período noturno, com o objectivo de surripiarem algum objecto valioso ou dinheiro no seu interior. A acção começa a partir da identificação do apartamento que esteja com as janelas abertas, e daí vão rondando até encontrarem uma brecha em que a circulação de pessoas ou o movimento dos moradores do prédio esteja calmo. Em muitos casos, os pequenos homens aranhas optam pelo momento em que todos já estejam a dormir. A agilidade com que se movem ao escalar os prédios parece de crianças que têm íman nas mãos e nos pés, ou molas nos membros superiores e inferiores, pois caso se sintam em perigo, muitos conseguem saltar, por exemplo, do terceiro ou segundo andar abaixo.

Corpo cicatrizado da cabeça aos pés, fruto das rixas com grupos rivais e porretes que lhe foram disferidos das três vezes que foi apanhado e teve passagem pela polícia, é como se apresentava De Huilá, 12 anos de idade, o mais novo entre sete crianças, que este jornal encontrou detido num sábado, nas celas da esquadra 51, do Kilamba, sob acusação de assalto aos apartamentos desta centralidade e do KK 5000. De baixa estatura, mas que assume ser ágil quando se trata de escalar os prédios, De Huilá juntou-se aos “homens-aranha” do Kilamba há dois anos e, neste período, conseguiu tirar dos apartamentos computadores, telefones, lençóis e colchas.

Inicialmente, começou a escalar apenas o 1.º andar, mas foi ganhando capacidades até que, no segundo ano de “actividade”, os pés e as mãos já tinham habilidades suficientes para chegar ao segundo e terceiro andares, segundo contou. Enquanto De Huilá contava o seu percurso, ao seu lado estava Bad Nucho, que afirma já ter perdido a conta de quantas vezes escalou os diferentes prédios do Kilamba. O que o adolescente de 14 anos não esquece, porém, é quantas vezes foi parar à cela, sempre que apanhado ou denunciado pelos comparsas. Aliás, afirma mesmo que, das quatro vezes, apenas em uma ocasião foi encontrado em flagrante pelos proprietários, que estavam a descansar no momento entrou no apartamento. Pela rua, viu que a janela da varanda estava aberta e escalou até ao terceiro.

Entre os bens de maior valor que furtou, constam computadores macintosh e telefones, em quantidades que não consegue calcular “porque são muitos”, além de 800 euros (em notas de 100), que gastou em “desbundas”.

 

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