Depois do desastre que foi a estratégia de comunicação por Twitter “a la Trump”, a empresária angolana Isabel dos Santos decidiu exercer agora o seu “direito de resposta” por meio de entrevistas. A sua última entrevista é mais um caso de sexta-feira que anima um jantar, ou provoca aquele debate temporário nas redes sociais. Isabel dos Santos já não merece tanto tempo de antena na comunicação social angolana, tal como na vida, não merecia ter tanto dinheiro como aquele que obteve em grande parte por privilégios de nascimento. Foi uma das principais beneficiárias de um sistema que se regulava pela obediência e a retribuição. Um sistema que alimentava “contemplados” e “privilegiados”. Um sistema que agora se vai desmontando, em que se vão acabando certas contemplações e privilégios. Um sistema que há um ano percebeu que era preciso corta a mão para salvar o braço e assim evitar uma gragena económica, política e social.
As teorias de conspiração, a estratégia da vitimização, a imagem de uma paladina das nobres causas, que agora vem branqueada/aprovada com entrevistas muito mal encenadas, com questionários vagos onde perguntas e respostas estão bem acertadas. Uma coisa começa a ficar patente : quando Isabel não vai às entrevistas, as entrevistas (entenda-se, os entrevistadores) vão até Isabel. Hoje Isabel dos Santos está a pagar caro uma atitude de desprezo e desvalorização que foi adoptando durante anos em relação à comunicação social angolana. Enquanto jornalistas angolanos “xixilavam” para conseguir um entrevista séria e objectiva com ela, por outro lado, os jornalistas e assessores de imprensa estrangeiros (na maior parte deles portugueses), eram pagos a peso de ouro para tratar da sua comunicação e tinham todo o seu tempo de antena. Hoje é perfeitamente compreensível que grande parte da imprensa e jornalistas nacionais, se sintam como “virgens ofendidas”, não tendo interesse em dar-lhe espaço nos seus espaços noticiosos. Faltou-lhe uma estratégia para comunicar com os seus (angolanos) e para os seus (imprensa angolana).
Lembro-me de quando o Banco Central Europeu (BCE) orientou o Banco Português de Investimentos (BPI) a diminuir a sua exposição em relação a Angola, tendo depois se criado uma “novela” em torno do assunto com forte destaque mediático na impresa portuguesa, levando a que Isabel dos Santos vendesse a sua participação accionista no BPI. Nesta altura, houve certos sectores vida política, económica, académica e social que foram em sua defesa, tudo porque na altura Isabel dos Santos era como uma espécie de modelo de afirmação empresarial angolana no exterior (mais concretamente em Portugal). Havia uma imagem que empresária bem sucedida, bem articulada e orquestrada, bem “cozinhada” pela bateria de assessores de agências sediadas na capital da antiga Metrópole, que depois era bem acolhida e “consumida” em Luanda. A “self-made woman” que começando com a venda de ovos, criou um império que fez dela a mulher mais rica de África. Até parecia aquela história da Carochinha para fazer adormecer os mais novos. Faltou uma adaptação para a literatura infantil angolana com o título : Mana Belita, a bilionária dos ovos de ouro.
Nos meios diplomáticos, a defesa do bom nome, honra e imagem de Isabel dos Santos era uma prioridade máxima e absoluta. Todo o comentário, análise ou notícia, entendida como lesiva ao bom nome, imagem e honra da “Princesa Isabel”, tinha de ser neutralizada, atacada ou desvalorizada. A estratégia com base ou argumentos nas ditas “Ordens Superiores”, passavam não só pelo ataque à mensagem mas também pela intimidação ou descredibilizar o mensageiro. Hoje é evidente que o cenário é completamente diferente. Se há um ou dois anos, muitos diplomatas angolanos no exterior, faziam “corredores” para estar onde Isabel dos Santos estivesse, faziam movimentações para a receber em audiência nos seus gabinetes (estendendo um tapete vermelho e guarda de honra , “if necessary”) e assim agradar o “antigo chefe”, hoje os tais meios diplomáticos querem uma boa e longa distância dela, para não embaraçar o “novo chefe”. Em tão pouco tempo consegui (ou conseguiram” fazer-lhe passar de bestial a besta.
Temos de ser justos e honestos em admitir que Isabel dos Santos, aplicou também dinheiro que recebeu do Estado em investimentos no país. A UNITEL, empresa da qual é accionista e que gere, é um dos maiores empregadores nacionais depois do próprio Estado. A UNITEL deve ser certamente o maior contribuinte nacional fora do sector petrolífero. A rede de supermercados Kandado tem criado oportunidades de negócios aos produtores nacionais, a Zap, Ucall, Cimangola e outros investimentos. Isto não deve deixar de ser mencionado, principalmente porque temos muitos ditos empresários ou “emprestários” que “comeram” milhões de dólares do Estado e sem nunca terem feito um investimento digno de realce. Mas a sua grande incoerência ou ingenuidade, é a de agora atirar-se contra o mesmo Estado que lhe abriu os cordões à bolsa, o Estado que lhe facilitou e financiou negócios, o tal Estado que fez dela bilionária. As pessoas não gostam que as tornem por parvas e percebem facilmente, quando as tentam colocar no meio de um jogo de interesses corporativos ou de grupos. Pois, o que choca nem é a indignidade de tudo isso mas sim a tal hipocrisia. Porque há quem mente na vida mas há quem transforma a sua vida numa mentira.
Parece que a estratégia das entrevistas ” À la carte”, servidas num table d’hôte (num menu fixo ou a pratos feitos), não tem surtido efeito. Isabel dos Santos devia fazer do silêncio o seu maior aliado. Ela tem de perceber que é possível “limpar a sua face sem dar a cara”. Nesta fase sair de cena por uns tempos, era uma boa opção. Quem sabe um retiro espiritual e sabático num templo budista ? Era boa para a sua imagem, espirito e alma. Fazia uma estratégia de reabilitação da sua imagem num investimento indirecto (numa primeira fase), em cultura, educação, desporto e responsabilidade social. Será uma boa estratégia para o “alívio temporário da dor” , bem como da pressão política, económica, mediática e judicial (no passado dia 17 de Julho foi notificada pela PGR e ao que se diz terá saído do país para evitar comparecer junto da PGR).
A comunicar como comunica, a falar como fala, os meios que utiliza para falar, Isabel dos Santos já não convence. Já não esclarece e nem clarifica. Já não cria empatia. Esta sua estranha forma de comunicar “by any means necessary” tem sido o seu dilema. Logo agora que tem contra si a toda poderosa imprensa oficial. Só pode ser mesmo o verdadeiro Azar da Belita. Termino aqui com uma questão que não calar mas que muitos evitam colocar
– Porque não te calas, Mana Belita ?