Angola já não é um eldorado para Portugal

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Angola já não é o que era. Assim se pode resumir a importância do país para a economia portuguesa, em particular no que toca às exportações, numa altura em que o Governo de João Lourenço está a negociar um programa económico apoiado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI). Há poucos anos, os alarmes estariam a soar em força em Lisboa. Agora, já não é bem assim.

Os números não deixam margem para dúvidas. Apesar da esperada aceleração da economia este ano — o FMI antecipa um crescimento de 2,2%, o que se compara com 1% em 2017 —, as exportações portuguesas para Angola estão em queda. No primeiro semestre ficaram por €740 milhões, recuando 15,5% face ao mesmo período de 2017. Isto quando as exportações portuguesas de bens cresceram, em termos globais, 6,6%. Como resultado, Angola vale agora apenas 2,5% do total. Um valor que fica muito longe dos 7,1% registados em 2009 ou dos 6,6% observados em 2014. Foi precisamente em 2014 que Portugal mais exportou em termos absolutos para Angola, atingindo €3,18 mil milhões. Em 2017 ficou-se por €1,79 mil milhões, e os dados de janeiro a junho prenunciam um valor ainda mais baixo para este ano.

O que vende Portugal? Em primeiro lugar, máquinas e aparelhos (24,6% do total). Seguem-se os produtos químicos (11,5%), os produtos das indústrias alimentares e as bebidas (10,4%), a fileira do metal (8,6%) e as gorduras, óleos e ceras animais ou vegetais (6,7%).

Pagamentos em atraso
“Bem-vindo.” É assim que Rafael Campos Pereira, vice-presidente da Associação dos Industriais Metalúrgicos, Metalomecânicos e Afins de Portugal (AIMMAP) classifica um programa económico entre Angola e o FMI. O país era, em 2017, o sexto destino das exportações do sector, segundo a AIMMAP, com €519 milhões (3,2% do total). E a evolução na primeira metade de 2018 foi negativa, com um recuo de 6,8% em termos homólogos, para €228 milhões. “O que observámos no primeiro semestre reforça a necessidade de um programa económico com o FMI que dê músculo ao investimento público e privado”, frisa Rafael Campos Pereira. E acrescenta: “Nota-se nos últimos anos um refrear das exportações e dos negócios das empresas nossas associadas em Angola.”

Explicação? “Uma das razões prende-se com um risco de pagamentos bastante grande”, constata Rafael Campos Pereira. “Há muitas empresas com dificuldades em liquidar créditos já com um ano, dois anos, ou mesmo três anos”, adianta, lembrando também a dificuldade em “tirar dinheiro de Angola”. Assim, “a injeção de credibilidade e de financiamento associada a um programa do FMI será interessante”. Até para “a diversificação da economia angolana, promovendo a sustentabilidade do país, e onde o sector metalúrgico e metalomecânico pode ajudar”, diz Rafael Campos Pereira.

Quanto às importações portuguesas de Angola, podem resumir-se quase a uma palavra: petróleo. O sector é determinante para a economia do país — deve representar 25,5% do PIB este ano — e para as receitas públicas. O FMI prevê que as receitas da Administração Central atinjam 18,2% do PIB em 2018, e a maior fatia virá do petróleo (11,7% do PIB).

As compras portuguesas de bens com origem em Angola ilustram bem esta realidade. Na primeira metade de 2018 atingiram €430 milhões, quase quatro vezes mais do que no mesmo período de 2017. E os produtos minerais (onde estão incluídos os produtos petrolíferos) representaram 97,6% do total.

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